A proposta é atraente e a vítima nunca consegue perceber que caiu numa armadilha. Convencida de que fez um bom negócio, ela só vai entender que foi enganada quando tentar acionar o suposto benefício e tiver dificuldade ou receber um ‘não’ como resposta. Estamos falando do seguro pirata, que ganhou esse nome porque o serviço, apesar de parecer semelhante ao seguro ofertado pelos corretores credenciados, são considerados falsos por serem vendidos por pessoas ou entidades que não possuem qualquer regulação e nem estão sujeitas as regras da Superintendência de Seguros Privados (Susep), a autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda responsável pelo controle e fiscalização do mercado de seguro, previdência privada aberta e capitalização. Em Alagoas, atualmente existem cerca de 30 associações que fazem esse tipo de negócio. E, em todo o Brasil, estima-se um prejuízo de R$ 5 bilhões aos cofres da União.

Ubirajara de Moraes Sarmento, que preferiu não mostrar o seu rosto, foi vítima do seguro pirata. Em 2016, ele comprou um carro zero e, claro, para se ver protegido de qualquer problema envolvendo o veículo, resolveu contratar uma proteção. O agricultor, que mora em Cacimbinhas, interior alagoano, já tinha adquirido o serviço por uma seguradora autorizada em anos anteriores, mas, foi seduzido pelo vendedor da concessionária a trocar de empresa e comprar a chamada ‘proteção veicular’. Para isso, ele precisaria ir até Caruaru, local de uma loja filial da associação Innova Benefícios Sociais– cuja sede é em Minas Gerais. Pelo valor ofertado, valeria a pena a viagem até o estado vizinho.

“Pelo seguro normal eu pagaria R$ 2,1 mil, já pela proteção veicular, R$ 1 mil. Pensei: vou economizar R$ 1,1 mil e sair na vantagem. Como a propaganda feita para mim foi só falando dos benefícios, eu não me preocupei em pesquisar e, inocente, contratei o serviço. Só vim me dar conta do prejuízo quando um motoqueiro bateu no meu carro e tive que pagar, do meu próprio bolso, R$ 1,8 mil pelo conserto. Ou seja, o dano total a mim causado foi de R$ 2,8 mil”, contou ele.

“Eu liguei várias vezes para a Inovar, mandei a documentação que pediram, mas sempre existia uma desculpa. Insisti por alguns dias, até a associação me dizer que não havia fundo para arcar com as despesas. Então, como eu precisava do meu carro para trabalhar, resolvi pagar o conserto. Até pensei em contratar um advogado, mas ele me pediu R$ 2 mil. Não compensaria pagar R$ 2 mil para receber de volta R$ 1 mil. Desisti e fiquei no prejuízo. Foi quando decidi procurar a minha antiga seguradora e contratar o seguro normal. Agora sei que estou 100% protegido”, acrescentou Ubirajara de Moraes Sarmento.

Innova possui 82 reclamações por negativa de indenização

Em seu site, www.suainnova.com.br, a associação informa que trabalha com um “programa de assistência recíproca e mutualista de fruição exclusiva dos associados” e que é por meio dessa “cooperação recíproca que é possível a contratação coletiva de serviços e a promoção de reparação de eventuais danos sofridos nos veículos ou ressarcimento aos participantes do programa”. No entanto, no portal www.reclameaqui.com.br, um dos maiores no ramo de queixas de consumidores, há 82 reclamações registradas nos mais diferentes estados, a exemplo de Alagoas, Pernambuco, Sergipe, Paraíba, Ceará, Bahia, São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Goiás e Santa Catarina.

E para piorar a situação, nenhuma das queixas relacionadas a negativa de pagamento por perda total, proibição de conserto do carro, não cumprimento de prazo, não autorização de locação de carro reserva e mal atendimento foi respondida pela entidade no  www.reclameaqui.com.br.

Sobre o caso do Ubirajara, a associação disse que iria buscar detalhes e, em seguida, daria uma resposta à reportagem. Mas a explicação só chegou depois de muitas tentativas dos repórteres. Na última ligação que fizemos, a atendente, que se indentificou como Silvana, disse, com voz alterada, que o “associado sabia dos riscos ao aderir ao serviço oferecido” e que ele, caso quisesse, “procurasse seus direitos na justiça”. A mulher também se recusou a passar o contato do responsável jurídico da Innova.